Regresso para falar desta trilogia maravilhosa, que está a um livro de se tornar numa das minhas preferidas. Sim, falo da Trilogia Daevabad, mais propriamente do seu segundo livro, O reino de cobre.
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Sobre a autora
S. A. Chakraborty é escritora e mora com o marido e a filha em Nova York. Seu livro de estreia, A Cidade de Bronze, é o primeiro de uma trilogia épica que se passa no Oriente Médio do século XVIII, e foi eleito um dos melhores livros do ano pela Amazon, Barnes & Noble, Library Journal, SyFy Wire e Vulture. Além disso, é organizadora do Grupo de Escritores de Ficção Especulativa do Brooklyn. Quando não está mergulhada em narrativas sobre retratos do Império Mugal e história de Omã, Chakraborty gosta de fazer trilhas e cozinhar refeições desnecessariamente complicadas para sua família.
Sinopse
Retorne a Daevabad na fascinante continuação de A cidade de bronze.
A vida de Nahri se transformou para sempre quando acidentalmente invocou Dara, um guerreiro djinn dividido entre um dever violento do qual nunca poderá escapar e uma paz que teme nunca merecer.
Retirada de sua casa no Cairo e inserida na deslumbrante e traiçoeira corte de Daevabad, ela precisou de seus instintos mais primitivos para sobreviver. Agora, com a cidade impregnada com as consequências de uma devastadora batalha, Nahri deve aceitar os próprios poderes e a herança milenar que jamais sonhou possuir.
Enquanto isso, Ali foi exilado por ousar desafiar seu pai. Caçado por assassinos e à deriva nas implacáveis areias de cobre de sua terra ancestral, ele é forçado a confiar em suas novas habilidades. Mas, ao fazer isso, ameaça descobrir um terrível segredo que sua família há muito mantém enterrado.
Uma nova era se aproxima. Os djinns se reúnem dentro das paredes de bronze de Daevabad para comemorar, mas um poder invisível do desolado norte trará uma tempestade de fogo direto para os portões da cidade. Conseguirão sobreviver a esta ameaça sem precedentes?
Opinião
Ainda estou um bocado embriagada na emoção que foi este livro. Chakraborty eleva a fasquia narrativa neste livro, de uma forma absolutamente magistral, levando quase a considerá-lo como um dos meus favoritos de sempre. Se a autora mantiver este ímpeto narrativo, então irei adicionar a trilogia à minha estante de favoritos.
“É difícil ver o modo como esta cidade destrói aqueles que amamos”
O reino de cobre foi uma jornada intensa e emocionante. A forma como as personagens foram destruídas e reconstruídas foi simplesmente maravilhoso. Enquanto que no livro anterior, a autora alternava entre os pontos de vista de Nahri e Ali, neste livro temos a adição de Dara, formando assim um trio de protagonistas. Por um lado, temos Nahri e Ali em Daevabad, mas em lados opostos ideologicamente. Por outro, temos Dara, dando-nos conta de uma aliança com Manizeh e a sua tentativa de recuperar o poder.
Entre A cidade de bronze e O reino de cobre dá-se um salto temporal de cinco anos. Devo confessar que a princípio achei um tanto estranho essa escolha por parte da autora, mas assim que fui me embrenhando mais na narrativa tornou-se claro o motivo desse salto temporal. As personagens precisam tempo de amadurecer, de lidar com as consequências das suas ações do livro anterior.
Nahri
“Não preciso que homens coloquem ideias na minha cabeça”
Nahri voltou a roubar todas as cenas. A personagem teve tempo para realmente compreender o que significa ser uma Nahid, estar numa posição de poder. Todos à sua volta, especialmente Ghassan, tentam quebrá-la e diminuí-la, no entanto Nahri mantém-se firme nas sua convicções, jamais se deixando quebrar, uma chama resistindo. A personagem é colocada numa posição de poder e ela faz de tudo para lutar por aqueles que não o possuem, tentando proteger a sua tribo, mas igualmente tentando melhorar a cidade - nem que seja uma coisa de cada vez. É muito interessante vê-la manobrar o campo político a seu favor. Naturalmente, nem sempre corre bem, contudo Nahri não se deixa desmotivar, encontrando outras formas de obter aquilo que deseja.
Amei a relação dela com Nisreen. Para além de mentora, Nisreen preenche o papel de mãe para Nahri, ainda que a personagem seja reservada e não lhe conte tudo.
Ali
“Estou cansado de todos nesta cidade se alimentando de vingança. Estou cansado de ensinar nossas crianças a odiar e temer outras crianças porque os pais delas são nossos inimigos. E estou farto de agir como se a única forma de salvar nosso povo fosse eliminar todos que podem se opor a nós, como se nossos inimigos não fossem retribuir o favor assim que o equilíbrio da balança se deslocar"
Ah, Alizayd al Qahtani! Do trio de protagonistas, creio que foi Ali quem mais cresceu neste segundo livro. Que espetáculo de personagem!
Como se devem recordar, na minha resenha de A cidade de bronze eu queixei-me do facto de Ali ter sido imensamente ofuscado na narrativa em relação às demais personagens. Apesar de interessante, os seus capítulos não me haviam cativado tanto quanto os de Nahri. Fico tão feliz por dizer que Ali brilhou verdadeiramente neste livro. No final do livro anterior, o seu pai exila-o para a sua terra natal, Am Gezira, condenando-o assim à morte. É lá que o encontramos, em Bir Nabat, uma aldeia do Norte rural. Contra todas as expectativas, Ali sobreviveu às várias tentativas de assassinato e prospera junto dos aldeões que o acolheram. Todavia, um acontecimento inesperado obriga-o a regressar a Daevabad e a confrontar o seu pai.
Ali continua dividido entre a lealdade à sua família e a lealdade aos seus princípios, porém Chakraborty vai destrinçando novas emoções da personagem. Após cinco anos no exílio, o regresso a Daevabad fá-lo encarar algumas verdades que a personagem havia enterrado no seu coração, tudo em prol de uma lealdade incutida a medo por Ghassan. Ali ainda teme o seu pai, mas é com o pai da sua mãe que ele se vai libertando dessas amarras a pouco e pouco. Aliás, a rainha Hatset é uma figura central para o arco de Ali neste livro. Arrancado dos braços da mãe ainda muito jovem, Ali nunca teve oportunidade de se relacionar com ela. É ao reparem o seu relacionamento que a personagem se dá conta do outro lado da equação e começa verdadeiramente a vislumbrar a tirania.
Dara
“Darayavahoush, sempre há pessoas a salvar. E sempre há homens e mulheres espertos ao redor que encontram uma forma de tirar vantagem desse dever e concentrá-lo em poder"
Neste livro, conhecemos uma outra faceta de Dara: a do guerreiro atormentado pelo seu passado e cansado da guerra. No final de A cidade de bronze, Dara foi ressuscitado por Manizeh, a mãe de Nahri. Manizeh oferece-lhe então a oportunidade de buscar vingança por quem o matou e de recuperar Daevabad para os daevas. Dara aceita, não tanto pelo que Manizeh lhe promete oferecer, mas mais porque ele é um Afshin e os Afshins seguem os seus senhores Nahid. Enquanto Nahro e Ali buscam um futuro melhor, um futuro de paz e sem violência, Dara continua a alimentar o ciclo da guerra porque é tudo aquilo que ele conhece. O mais interessante no arco de Dara são os dilemas com que ele se vê confrontado sobre ódio, rancor e a moralidade das suas ações. Se no passado, Dara agiu com uma lealdade cega aos Nahid, agora o Afshin questiona várias vezes Manizeh e chega mesmo a confrontá-la. O que dói mais nesta personagem é a forma como o seu passado o quebra. Ele consegue ver outras soluções, mas falta-lhe coragem para realmente erguer a sua voz.
Aliás, é isso que marca muitas outras personagens do livro: a perpetuação de um ciclo de ódio, porque ódio e dor é tudo o que conhecem.
Do início ao fim, O reino de cobre é uma guerra à espera de acontecer. E quando ela realmente se dá, explode de uma maneira, apanhando todas as nossas personagens violentamente. Chakraborty não tem pressa de desenvolver a sua história, ela leva o seu tempo para ir desenvolvendo cada núcleo e cada trama paralela e é isso que torna este livro tão desesperante.
⭐⭐⭐⭐⭐
5/5
Em suma, O reino de cobre apresenta-nos uma narrativa tensa, levando as suas personagens ao limite para depois as quebrar sem dó, nem piedade. Um livro magistral que nos deixa a roer as unhas de nervosismo e antecipação pelo próximo livro.
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