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A cidade de bronze (Trilogia Daevabad #1) | Opinião #200

 Olá a todos!

    Hoje venho falar de um livro incrível, A cidade de bronzeA cidade de bronze é o primeiro livro de uma nova trilogia de fantasia inspirada pelos mitos do mundo pré-islâmico e árabe, uma tendência que tem ganho cada vez mais espaço no mercado editorial.

Confere os restantes livros da trilogia:

Sobre a autora

    S. A. Chakraborty é escritora e mora com o marido e a filha em Nova York. Seu livro de estreia, A Cidade de Bronze, é o primeiro de uma trilogia épica que se passa no Oriente Médio do século XVIII, e foi eleito um dos melhores livros do ano pela Amazon, Barnes & Noble, Library Journal, SyFy Wire e Vulture. Além disso, é organizadora do Grupo de Escritores de Ficção Especulativa do Brooklyn. Quando não está mergulhada em narrativas sobre retratos do Império Mugal e história de Omã, Chakraborty gosta de fazer trilhas e cozinhar refeições desnecessariamente complicadas para sua família.

Sinopse

    Cuidado com o que você deseja...

    Nahri nunca acreditou em magia. Golpista de talento inigualável, sabe que a leitura de mãos, zars e curas são apenas truques, habilidades aprendidas para entreter nobres Otomanos e sobreviver nas ruas do Cairo.

    Mas quando acidentalmente convoca Dara, um poderoso guerreiro djinn, durante um de seus esquemas, precisa lidar com um mundo mágico que acreditava existir apenas em histórias: para além das areias quentes e rios repletos de criaturas de fogo e água, de ruínas de uma magnífica civilização e de montanhas onde os falcões não são o que parecem, esconde-se a lendária Cidade de Bronze, à qual Nahri está misteriosamente ligada.

    Atrás de seus muros imponentes e dos seis portões das tribos djinns, fervilham ressentimentos antigos. E quando Nahri decide adentrar este mundo, sua chegada ameaça recomeçar uma antiga guerra.

    Ignorando advertências sobre pessoas traiçoeiras que a cercam, Nahri embarca em uma amizade hesitante com Alizayd, um príncipe idealista que sonha em revolucionar o regime corrupto de seu pai. Cedo demais, ela aprende que o verdadeiro poder é feroz e brutal, que nem a magia poderá protegê-la da perigosa teia de intrigas da corte e que mesmo os esquemas mais inteligentes podem ter consequências mortais.

Opinião

    O livro transporta-nos para o Cairo do séc. XVIII, mesmo em plenas invasões napoleónicas. Conhecemos Nahri, a nossa protagonista, uma vigarista com poderes peculiares: ela pode sentir a saúde das pessoas só de olhar para elas. Obviamente, que isso lhe dá muito jeito na hora de vender poções e remédios. Um belo dia, durante um dos seus golpes, Nahri convoca acidentalmente uma força antiga e esquecida: um djinn. Perdão, um daeva. A partir daí, Nahri torna-se o alvo de seres mágicos. Sem muitas opções, Nahir une forças com o daeva que ela invocou e parte para Daevabad, o último refúgio mágico.

    Mas Nahri não é a única protagonista deste livro. Alternando com os capítulos de Nahri, está Alizayd al Qathani, o segundo príncipe de Daevabad, a cidade das muralhas de bronze. É pelos olhos de Alizayd que somos apresentados a esta cidade mística muito antes de Nahri e o seu companheiro daeva chegarem lá. Eu diria que foi uma jogada inteligente por parte da autora, pois dessa forma a história nunca perde o seu ritmo.

    À primeira vista, Daevabad parece ser uma cidade deslumbrante e mística, mas as suas belas muralhas escondem animosidade e tensão crescentes. A cidade é um barril de pólvora e basta apenas uma pequena faísca para explodir.

“Nossa fé é uma parte importante de nossa cultura”
    Com A cidade de bronze, Chakraborty escreve uma história sobre religião, fé, intolerância, tirania e o ciclo de ódio gerado pelas inúmeras guerras. O mundo que a autora constrói tem tanto de belo como desolador. É um universo rico em detalhes, o qual vamos descobrindo a par e passo, juntamente com os nossos protagonistas. Não vou mentir, a princípio senti-me um pouco perdida com os vários termos que são apresentados no decorrer da narrativa, contudo o glossário que se encontra no final do livro colmatou em muito qualquer confusão que eu estava a sentir.

    Como devem saber, para mim as personagens são a alma de qualquer história. Pode ser uma história cheia de reviravoltas e conceitos interessantes, mas se o autor não criar personagens minimamente interessantes e não as souber desenvolver, então tudo está perdido. Felizmente, não é esse o caso com este livro. Aqui todas as personagens são importantes e têm o seu papel a cumprir, mesmo as secundárias; e todas elas roubam a cena de uma forma ou de outra. Obviamente, temos que começar por Nahri e Ali.

“A grandeza leva tempo, Banu Nahida. Em geral, os mais poderosos têm os princípios mais humildes”

    Dos dois protagonistas, gostei mais dos capítulos narrados por Nahri. Ela é simplesmente fantástica. Nahri é esperta, teimosa, com um instinto de sobrevivência muito claro. Achei interessante e refrescante a forma como a autora abordou a jornada dela pelo mundo mágico. Nahri caí de paraquedas neste mundo mágico, logo ela não sabe muito bem em quem confiar - para além de que, quando confirmadas as suas origens, Nahri sente um estranhamento e um desfazamento nas expectativas que são criadas sobre ela. Afinal, ela cresceu no mundo humano, portanto não sente qualquer afinidade emocional com o mundo que lhe é apresentado. No meu entender, a autora conseguiu captar muito bem esse detalhe na construção da personagem. De certa forma, Nahri lembra-me Alina Starkov da Trilogia Grisha. Ambas são atiradas para um mundo que não entendem completamente e, de alguma forma, têm de aprender a navegá-lo.

“Não vai conseguir continuar assim, Alizayd. Continuar no caminho entre a lealdade à sua família e a lealdade ao que sabe ser o certo. Algum dia vai precisar fazer uma escolha”

    Descrever Alizayd al Qhatani (ou Ali para os amigos) como uma personagem complicada é ser um pouco redundante. A principal razão pela qual os seus capítulos não me cativaram tanto quantos os de Nahri, apesar de serem extremamente interessantes, é porque eu sinto que, no esquema geral da narrativa, a personagem estava um bocado ofuscada. Vou tentar explicar-me melhor. Ali é o segundo príncipe Qhatani, o seu pai é o rei que governa Daevabad e o restante do mundo mágico com uma mão de ferro. Ali é uma personagem que se encontra dividida entre a lealdade ao seu rei e a lealdade aos seus princípios. É uma batalha que vai tendo avanços e recuos. Não que eu não tenha gostado da personagem e dos seus dilemas, mas pareceu-me que Ali era utilizado mais no sentido de mostrar a nós leitores as intrigas políticas ocultas.

“Está tudo bem, Dara, de verdade. O que quer que tenha acontecido no passado é apenas isso: o passado”

    Ainda que todas as personagens secundárias sejam muito bem construídas e tenham o seu papel na narrativa, não posso não deixar de mencionar Dara. De todas as personagens secundárias, é ele que ocupa um maior espaço na narrativa. Dara é o daeva que Nahri acidentalmente invocou e que a protege ao longo da narrativa. A relação entre os dois é conturbada, existindo uma ideia de romance, movido um pouco pelo deslumbramento. Todavia, esse "romance" nunca chega a concretizar-se de facto, uma vez que Dara é uma personagem imprevisível. A personagem possui um passado no mínimo controverso e quase que parece ser consumido por ele. Em Dara, Chakraborty traz-nos a visão da guerra e do preço da lealdade cega.

    Talvez o mais interessante em A cidade de bronze seja essa moralidade dúbia. Todas as personagens escondem segredos, todos guardam ressentimentos e ódio. Ghassan pode ser o tirano óbvio, o antagonista mais visível, mas ninguém - absolutamente ninguém - está isento de falhas ou de críticas.

⭐⭐⭐⭐

4/5

    Em suma, A cidade de bronze é uma história cativante, que nos apresenta a um mundo deslumbrante, mas que esconde demasiados segredos que o ameaçam destruir.

P.S: vou ter que fazer uma observação um bocado chata acerca da tradução, contudo há que ser rigoroso de forma a entregar produtos com qualidade. Palavras como «Tiamat» e «zigurate» - conceitos sumérios - são, na realidade, femininas e não masculinas.

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Ellis

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