Saudações meus caros leitores!
Há já bastante tempo que queria fazer um post especial sobre Percy Jackson. Atendendo ao facto que a série da Disney estreia para a semana (dia 20), achei que finalmente estava na altura. Portanto, vamos a isso!
Pensei demoradamente como queria estruturar este artigo e sobre o que realmente queria falar. Por mais versões que tenha escrito, havia sempre algum elemento que estava em falta - ao ponto de o texto nunca me soar correto ou ser suficiente. Cheguei à conclusão que esse elemento era eu própria e o carinho que nutro por estes livros. Afinal, eu adoro estes livros e, por isso, é impossível dissociar a minha experiência da redação deste artigo. Embora o título escolhido remeta para uma possível explicação quasi-científica, a verdade é que me focarei mais naquela que é a minha experiência pessoal com os livros e as minhas próprias conjeturas acerca do seu enorme sucesso.
Posto isto, importa recordar o passado. A primeira vez que entrei em contacto com o universo de Percy Jackson foi através daqueles pavorosos filmes da Fox. Eu sempre fui fascinada por História e tudo relacionado à área (ao ponto que agora estou a seguir carreira nessa área). Portanto, não seria de estranhar que eu fosse gostar do material. Apesar de não ter achado muita graça aos filmes, fui a correr atrás dos livros. E, claro, amei a estória que eles contavam. Devorei Percy Jackson e Heróis do Olimpo em duas semanas, no decorrer das férias de verão do 8º ano. Lembro-me da minha mãe ficar estupefata com o facto de eu ter chegado a ler dois livros por dia, tal era a minha loucura. Após uma rápida pesquisa na internet - com o intuito de saber se existiam mais livros -, descobri que não era a única que gostava destes livros; e que os mesmos eram até bastante populares pelo mundo inteiro. Destarte, qual a razão deste sucesso?
Bem, antes de responder a essa pergunta, talvez seja interessante informar aqueles leitores que nunca ouviram falar de Percy Jackson. A premissa da estória é simples: Percy é um rapaz de 12 anos (no início da saga) que sofre de dislexia e TDAH - transtorno de défice de atenção e hiperatividade -; contudo, ele acaba por descobrir que os velhos deuses e mitos são reais e que ele próprio é um semideus. Como eu disse, é uma premissa simples. Todavia, uma premissa simples pode dar azo a uma estória mais profunda e que converse com os seus leitores. Tudo se resume à capacidade do autor em saber explorar as suas personagens e a estória que o mesmo criou. A meu ver, Rick Riordan consegue fazer exatamente isso - transformar aquilo que parece ser uma coisa simples numa estória mais profunda.
Na minha opinião, um dos graves problemas que a nossa sociedade enfrenta em relação aos seus indivíduos, especialmente aqueles que são considerados menores, é a sua infantilização. Ou seja, apresentar produtos de entretenimento um tanto parvos e sem nexo algum, tratando o seu público-alvo (a maior parte dos casos, crianças e pré-adolescentes) como indivíduos estúpidos e com o intelecto reduzido. Ora, esta tendência tem sido paulatinamente invertida graças a obras como Harry Potter, Avatar: a lenda de Aang, A casa da coruja, The dragon prince ou She-Ra e as princesas do poder. Algo que perpassa em todas as estas obras, e por conseguinte Percy Jackson, é o facto de as suas personagens principais serem pré-adolescentes/adolescentes e enfrentarem o mundo, onde pelo caminho vão aprendendo lições importantes e amadurecendo - tal como os seus espectadores.
À semelhança de Harry Potter (cujos os livros nunca li, tendo apenas assistido aos filmes), a saga Percy Jackson é também classificada como uma fantasia urbana. As duas sagas possuem algumas semelhanças entre si, porém, enquanto Harry Potter se foca exclusivamente em Hogwarts e no mundo mágico, Percy Jackson tem um pé no fantástico e outro na realidade. Sim, as personagens vivem aventuras fantásticas, lutando contra deuses e monstros, no entanto finda a aventura estas "regressam" ao mundo real, a fim de enfrentarem os problemas e as suas preocupações típicas da sua idade. Naturalmente que as lições que aprenderam no decorrer da aventura são aplicadas no mundo real. Nesse sentido, as personagens vão crescendo de livro para livro, num processo natural e orgânico em conjunto com os leitores, abordando toda uma miríade de temas e assuntos que assolam as diferentes faixas etárias. Assim, entra em marcha o fator de identificação entre leitor e personagem. Para além do realismo com que trata as suas personagens, o autor também abre espaço para a inclusividade e representatividade ao introduzir personagens com dislexia, TDAH e outros transtornos neurobiológicos - assuntos habitualmente varridos para debaixo do tapete.
Outro elemento que é abordado com maestria pelo Tio Rick prende-se com a moralidade. Traçando mais uma vez comparações entre as duas sagas, em Harry Potter as questões morais são sempre apresentadas como absolutos (pelo menos, nos filmes). Ou seja, de um lado estão os heróis e do outro os vilões. Quanto a Percy Jackson, o caso muda de figura. Continuam a existir heróis e vilões, no entanto os próprios heróis se questionam se realmente estão do lado certo, chegando em muitas ocasiões a empatizar com os ditos vilões, pois compreendem todo o contexto que os levou àquela situação.
Outro ponto que a mim me cativou foi a forma como Riordan trabalha os mitos greco-romanos, adequando-os à atualidade. Sou a primeira a admitir que não sou especialista em mitologia, não obstante tenho conhecimento de alguns mitos, ainda que por alto. Ora, Riordan consegue dar uma outra roupagem a mitos mais famosos e outros não tanto, fazendo-o sempre de uma forma didática, instigando-nos a curiosidade. Note-se que trabalhar com qualquer mitologia é um trabalho hercúleo, uma vez que existem centenas de versões diferentes do mesmo mito consoante o tempo e a região. Nesse sentido, o autor faz um trabalho excecional a não só atualizar os mitos, mas também a pegar em elementos das diferentes versões e amolgar tudo criando versão mais coesa.
Um outro aspeto que possivelmente contribuiu para o sucesso da saga (e um que eu particularmente adoro) é a sua escrita, mais concretamente o estilo de escrita e os diálogos entre as personagens. A escrita de Riordan não é extremamente elaborada, nem floreada. A sua escrita pode ser descrita como simples e mais terra a terra, sem nunca insultar a inteligência dos leitores. Além disso, todos os livros de Rick Riordan caracterizam-se pelo seu humor sarcástico que é simplesmente hilariante.
No fim, se tivesse que descrever Percy Jackson, diria que é aquele amigo de infância, com quem crescemos e porventura nos afastamos num determinado momento da nossa vida; quando nos reencontramos a ligação ainda existe e é como não se tivesse passado tempo algum. Pois, em última análise, Percy Jackson tornou-se numa leitura de conforto, quando por vezes necessito de uma pausa de tudo o que está à minha volta.
Mesmo com o fracasso dos filmes, Percy Jackson é uma saga que continua a crescer, o que atesta e muito a força dos livros e da estória que neles é contada. Esperemos que a série da Disney faça jus aos livros e ao universo que Rick Riordan criou a partir das estórias que contava para o filho. Espero que tenham gostado deste post diferente. Com certeza, planeio fazer mais coisas deste género.
Até à próxima!
Ellis
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