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A república do dragão (A guerra das papoilas #2) | Opinião #308

 Saudações caros leitores!

    A guerra das papoilas continua neste segundo livro, A república do dragão, onde R. F. Kuang explora a brutalidade inerente à guerra e às lutas pelo poder. O primeiro livro foi deveras interessante, embora um tanto morno para mim. Porém, este segundo livro foi...qualquer coisa...?

    Atenção: este artigo pode conter spoilers.

    Não se esqueçam de conferir os demais volumes da trilogia:

Sobre a autora

    Rebecca F. Kuang é escritora, tradutora de mandarim e bolseira da Marshall Scholarship. É mestre em Filosofia, nas áreas de Estudos Chineses e de Estudos Chineses Contemporâneos, respetivamente por Cambridge e Oxford, em Inglaterra. Venceu o Hugo Award e o Astounding Award for Best New Writer, bem como os prémios Crawford e Compton Crook para livro de estreia, A Guerra das Papoilas — o primeiro livro de uma trilogia já em publicação pela Desrotina —, além de ter sido nomeada para os Nebula, Locus e World Fantasy.

Sinopse

    A raiva. Raiva que transforma a alma num fogo furioso que nunca pode ser extinto. Este é o mundo inteiro de Rin, assombrada pela atrocidade que cometeu para acabar com a guerra, viciada em ópio e escondendo-se das ordens assassinas do seu deus vingativo, a Fénix ardente. A sua única razão de viver é vingar-se da imperatriz traidora que vendeu Nikan aos seus inimigos.

    Sem outras opções, Rin junta forças com o poderoso Senhor da Guerra dos Dragões, que tem um plano para conquistar Nikan, destituir a Imperatriz e criar uma nova República. Rin lança-se na sua guerra. Afinal, fazer guerra é tudo o que ela sabe fazer.

    Mas a Imperatriz é um inimigo mais poderoso do que parece, e as motivações do Senhor da Guerra dos Dragões não são tão democráticas quanto parecem. Quanto mais Rin aprende, mais ela teme que o seu amor por Nikan a afaste de todos os aliados e a leve a confiar cada vez mais no poder mortal da Fénix. Porque não há nada que ela não sacrifique pelo seu país e pela sua vingança. Por isso, ela lança-se de novo na luta. Porque, afinal, lutar é o que ela faz de melhor.

Opinião

Tu és uma menina assustada que reage à raiva e à perda da maneira mais míope possível. Tudo o que queres é vingares-te. Mas poderias ser muito mais. Fazer muito mais. Escuta-me. Tu podias mudar a história.

    Neste livro, Rin ainda está a lidar com as consequências dos eventos do livro anterior, especialmente com a morte de Altan. O primeiro ato do livro é, no mínimo, confuso. Rin não faz ideia do que está a fazer. A única coisa que ela realmente quer é vingar-se de Su Daji, a Viberatriz, pela morte de Altan e nem sequer possui um plano minimamente decente ou pensado. A maior parte do primeiro ato é só Rin a andar de um lado para o outro lado a descarregar a sua raiva em tudo o que se mexa e a arrastar consigo os Cike para missões cada vez mais perigosas e de contornos suicidas. Para piorar tudo, a personagem afunda-se no consumo do ópio porque ela é incapaz de lidar com todas as consequências do genocídio que provocou.

    Eu entendo que Rin esteja num processo de conciliação com os seus atos, a lidar com o luto, para além de ter que liderar uma unidade de elite (algo para o qual ela não está minimamente preparada), no entanto é difícil engolir ou sequer compreender muitas das decisões que a personagem toma - especialmente quando a personagem foi construída como sendo incrivelmente inteligente.

Poderias lançar este Império numa nova era gloriosa e unida e também nos poderias destruir. O que não podes fazer é permanecer neutra. Quando tens o poder que tens, a tua vida não é tua. As pessoas vão tentar usar-te ou destruir-te. Se quiseres viver, tens de escolher um lado. Portanto, não fujas da guerra, criança. Não recues diante do sofrimento. Quando ouvires gritos, corre na direção deles.

    É a partir da segunda parte que a história (e consequentemente as personagens) começa a tomar um rumo. Nesta segunda parte somos introduzidos a novas personagens, bem como reencontramos antigas personagens - como, por exemplo, Nezha e Venka. Das novas personagens, os que mais se destacam são Vaisra e os Hesperianos. Yin Vaisra é o Senhor da Província do Dragão que procura transformar o Império numa República, como se sucede em Hespéria. Porque acompanhamos a história a partir do ponto de vista de Rin, Vaisra é-nos apresentado como um salvador carismático que de facto procura o bem-estar do seu povo. Ou seja, aos olhos de Rin, Vaisra torna-se no novo modelo que guia a sua vida e que lhe confere algum propósito, ao mesmo tempo que a absolve de ter que tomar decisões. Quanto aos Hesperianos, estes são o retrato de qualquer força colonizadora com a única diferença de serem brancos. Embora estes não participem ativamente na história, estão sempre lá no canto a pairar - nunca exatamente como uma ameaça, mas também nunca como verdadeiros aliados. Naturalmente, a autora inclui todo o discurso abjeto sobre uma suposta superioridade racial.

    Honestamente, o ponto alto d'A república do dragão são as personagens secundárias. O facto de Rin basicamente se demitir da liderança e, no fundo, desistir do seu livre arbítrio para se tornar num simples soldado faz com que a personagem seja apagada ao longo do livro. Não ajuda igualmente o facto de Rin se transfigurar numa personagem apática, aparentemente insensível à miséria e carnificina que a rodeiam. Posto isto, as personagens secundárias ganham um grande destaque seja porque agem como a sua consciência/bússola moral, seja porque lhe estão constantemente a gritar avisos que ela decide ignorar.

Só acho que não deves fazer escolhas de vida ou morte com base no sentimentalismo

    No meio de tanta carnificina, Kitay assume-se como a única voz racional e como o único fiapo de humanidade restante em Rin. Somos brindados com revelações impressionantes sobre Nezha e a sua família, ao mesmo tempo que vemos o seu lado mais idealista e os seus verdadeiros sonhos. Venka demonstra coragem e resiliência, mesmo após os horrores que vivenciou. Também os gémeos Qara e Changhan passam a ter um papel mais preponderante dentro da narrativa. Foram de longe as personagens mais interessantes no livro inteiro.

    A república do dragão é uma continuação difícil de engolir, especialmente devido ao arco da sua personagem principal. Rin passa de alguém importante para a trama (mesmo sendo moralmente controversa) para literalmente uma zé-ninguém que, por acaso, é uma xamã. Obviamente que nem todas as personagens necessitam de seguir um arco positivo - onde crescem para a melhor versão de si mesmos - e quer-me parecer que essa não é a intenção da autora. Contudo, o livro inteiro fiquei com a sensação de que a própria autora não sabia muito bem o que fazer com a personagem. Rin faz demasiada porcaria sem qualquer justificação.

    Pessoalmente, não estou particularmente empolgada para o próximo livro e, neste momento, as minhas expectativas encontram-se num nível incrivelmente baixo. Todavia, comprei o livro, portanto tenho que o ler.

⭐⭐

2.5/5

Até à próxima!

Ellis

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