Hoje venho apresentar-vos a um livro que me encantou recentemente. Falo de A tribo dos mágicos e esta é a minha crítica.
Não se esqueçam de conferir os próximos volumes:
- O desafio do guerreiro (A saga dos Otori #2)
- As cinco batalhas (A saga dos Otori #3)
- O voo da garça (A saga dos Otori #4)
Sobre a autora
Lian Hearn nasceu em Inglaterra, frequentou a Universidade de Oxford, estudou japonês, manifestando desde sempre um grande interesse pela cultura deste país. Esta obra, já traduzida para mais de vinte países, foi premiada com o New York Times Notable Book of The Year e o School Library Journal's «Best Adult Books for High School Readers», 2002. Devido à sua excelente qualidade, esta obra despertou recentemente o interesse cinematográfico.
Sinopse
A tribo dos mágicos é o primeiro volume de uma trilogia brilhante - A saga dos Otori -, não só pela magia que emana como pela capacidade expressiva e vigorosa de uma escrita que nos acompanha desde o princípio ao fim.
A história começa quando o jovem Takeo é obrigado a fugir da sua aldeia e a mudar de identidade por se ver envolvido num episódio terrível com o maléfico e ambicioso Iida, do clã Tohan. Durante esta fuga é perseguido e salvo por Shigeru, herdeiro legítimo do clã Otori, que o acaba por conduzir ao seu destino, para lá das muralhas de Inuyama. Tendo sido criado entre os Ocultos - um povo isolado e voltado para o desenvolvimento da mente -, Takeo possui os dons sobrenaturais desta tribo: uma audição foram do comum, a capacidade de estar em dois lugares ao mesmo tempo e o poder de se tornar invisível. Nesta longa e tortuosa jornada, Takeo irá conhecer a vingança e a traição, a honra e a lealdade, a beleza e a magia, além da arrebatadora força do amor.
Uma extraordinária obra de ficção, de magnitude épica e recheada de imaginação. O mundo mítico dos Otori será certamente inesquecível!
Opinião
Atualmente, o Japão exerce um grande fascínio no Ocidente, muito por conta dos animes e dos mangás que acabam por fazer grande furor neste lado do mundo. Mas, os animes e os mangás não explicam tudo: há algo nas tradições nipónicas, na sua beleza natural, nas suas cores e também na sua História que nos deixam fascinados. Lian Hearn brinca com esse nosso fascínio pelas terras nipónicas e constrói uma história fantástica e interessante.
Takeo foi criado entre os Ocultos, um povo que se esconde nas montanhas - alvo de todo o tipo de superstições por causa do seu isolamento. Quando o terrível senhor da guerra, Iida Sadamu, chacina todo o seu povo, Takeo é salvo pelo misterioso Otori Shigeru. Otori Shigeru também odeia Iida e, juntamente com Takeo, os dois planeiam a sua vingança contra o infame senhor da guerra. Há apenas um problema: para chegar a Iida, é preciso primeiro passar pelo famoso piso-rouxinol, um soalho que canta a cada passo.
Creio que devo iniciar esta minha crítica por mostrar o meu desagrado com a tradução do título para português de Portugal. A tribo dos mágicos não reflete em nada a história deste primeiro volume d'A saga dos Otori. A tradução para o português do Brasil é uma tradução muitíssimo mais adequada - O piso-rouxinol. Mas, porquê esta minha teimosia com título, perguntam-se vocês. Por uma razão muito simples: sem dar grandes spoilers, este piso-rouxinol - que canta a cada passo, frustrando quaisquer tentativas de furtividade - é central para a trama deste primeiro volume. Será que Takeo é capaz de o atravessar é a questão que permeia todo o livro, do início ao fim. Destarte, a atmosfera do livro é um tanto opressiva, no sentido em que sabemos que algo está para acontecer, mas desconhecemos o que seja e essa incerteza deixa-nos ansiosos.
O livro é narrado por dois pontos de vista - Takeo e Kaede. Takeo viveu uma vida de paz até ao momento em que todos os que amava foram brutalmente assassinados. A partir daí, o rapaz descobre a sua herança mágica e é atirado para o mundo da corte e da política. Neste primeiro volume, a jornada de Takeo é a uma de vingança, no entanto a sua vingança nuca toma as proporções cegas a que estamos habituados a ver na ficção. Hearn consegue alterar este paradigma ao introduzir Otori Shigeru na jornada do nosso protagonista, o qual torna-se numa presença amenizadora para o nosso protagonista (e também numa espécie de mentor). Kaede é a segunda protagonista do livro. Shirakawa Kaede é uma refém de alto valor, mantida sobre o controlo dos Seishuu. A jornada de Kaede neste livro segue uma via mais feminista, explorando o papel relegado às mulheres numa sociedade patriarcal, ao mesmo tempo que a personagem vai conquistando mais espaço e descobrindo como manobrar a política a seu favor.
Uma característica que marca todas as personagens secundárias é o facto de não sabermos em quem podemos confiar e isso torna-se palpável nas suas interações com os protagonistas. Contudo, a personagem que mais me fascinou foi, sem dúvida, Otori Shigeru. Hearn soube construir uma personagem misteriosa e cativante, deixando-nos a nós leitores e ao protagonista um tanto maravilhados com a sua presença. Em vários momentos do livro são feitas alusões ao seu passado, embora estas nunca sejam plenamente explicadas - apenas aguçando a nossa curiosidade em relação a esta personagem.
Como já foi dito, a atmosfera deste livro é opressiva e isso reflete-se na narrativa. Hearn apresenta-nos um mundo da sua criação, ao mesmo tempo que retira inspiração do Japão feudal e das figuras dos samurai. Nesse sentido, a autora prioriza as descrições feitas pelos olhos dos protagonistas e das sensações que isso lhes provoca. A autora não se apressa em apresentar-nos o mundo que ela criou, deixando a narrativa seguir ao seu ritmo, tendo como resultado final um livro viciante onde é impossível largar a página. Hearn aborda temas como a honra, a lealdade, o dever, o que é certo e o que é errado, no meio de lutas pelo poder. Dizer que estou curiosa para ler o próximo volume é um eufemismo.
Em suma, A tribo dos mágicos apresenta-nos a um universo fascinante, inspirado no Japão feudal, e a personagens cativantes.
⭐⭐⭐⭐
4/5
Até à próxima e boas leituras!
Ellis
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