- Hell's Paradise (Volume 1)
- Hell's Paradise (Volume 2)
- Hell's Paradise (Volume 3)
- Hell's Paradise (Volume 5)
- Hell's Paradise (Volume 6)
- Hell's Paradise (Volume 7)
- Hell's Paradise (Volume 8)
- Hell's Paradise (Volume 9)
- Hell's Paradise (Volume 10)
- Hell's Paradise (Volume 11)
- Hell's Paradise (Volume 12)
- Hell's Paradise (Volume 13)
Sobre o autor
Sinopse
Opinião
"Nada nesse mundo é imutável"
O quarto volume continua na mesma senda expositiva do anterior, desta vez intercalando entre diferentes personagens e com cenas de ação, com o objetivo de demonstrar na prática aquilo que está a ser explicado. Mais uma vez, vamos destrinçar as novas informações e depois passaremos às personagens.
Neste volume descobrimos que existe um sistema de hierarquia entre as criaturas: no topo da cadeia estão os Tensen, seguidos dos Doshi - criaturas sencientes, as quais seguem os Tensen como seus estudantes -, e, por fim, os Soshin, que nada mais são que cães de guarda. Quanto aos Tensen, finalmente descobrimos quantos são ao todo e desvendamos um pouco da sua origem. Aparentemente, este conjunto é composto por sete indivíduos e, segundo as crenças dos habitantes, os Tensen representam as diferentes partes da personalidade de um grande Sábio. Esta parte aqui fez-me lembrar muito Fullmetal Alchemist e os sete pecados capitais. Mas, as comparações não se ficam por aqui. Assim como a pedra filosofal é feita a partir de vidas humanas, também o elixir da vida é feito, utilizando a mesma matéria.
Uma coisa que eu considerei bastante interessante prende-se com a suposta imortalidade dos Tensen. Num primeiro momento, Kaku faz-nos crer que estes são seres imortais, mas o autor rapidamente desconstrói essa noção. Eles podem parecer imortais com a sua capacidade de regeneração, no entanto eles possuem pontos fracos no seu corpo - e, uma vez atingidos esses pontos, eles morrem.
Bom, como eu referi no início, Hell's Paradise aborda alguns conceitos teológicos neste volume. De facto, o autor estabelece aqui um sistema de poder baseado em conceitos budistas e taoístas.
Ora, para poderem derrotarem os Tensen (ou pelo menos ter uma hipótese), as nossas personagens devem aprender os caminhos do Tao. O Tao é um conceito essencial na filosofia taoísta, que se traduz como o caminho. Neste ponto, creio que seja necessário fazer um contexto sobre esta filosofia/religião, um pouco resumido.
O Taoísmo é uma filosofia que nasceu na China. Não é possível rastrear a sua origem até um momento definido no tempo, uma vez que estes conceitos parecem estar presentes na sociedade chinesa desde os seus momentos pré-históricos. Todavia, podemos afirmar que a sua cimentação enquanto sistema de ideias e crenças ocorre com Laozi, por volta do séc. II a.C. Assim sendo, no que é que consiste o taoísmo?
Ora, o Taoísmo procura compreender o universo e o nosso lugar nele, isto é, procura uma forma de comunhão entre o ser humano e o universo. Neste sentido, esta filosofia/religião propõe que o indivíduo se entregue à espontaneidade do momento, que deixe a vida seguir o seu curso e que promova uma comunhão com a Natureza. Este é o conceito de Wu Wei, da ação sem reação, da entrega à simplicidade. Mais do que o caminho, o tao assume-se como o fluxo do universo, a sua força matriz, a energia que nos rodeia. Outro conceito amplamente disseminado pelo mundo, e que provém do Taoísmo, é o conceito de Yin-Yang. O Yin encontra-se associado ao feminino e à escuridão. Por seu turno, o Yang está associado ao masculino e à luz. Um não pode existir sem o outro, existindo uma interdependência entre os dois. O Yin-Yang posteriormente correlacionam-se com os cinco elementos: a água, a terra, o fogo, a madeira e o metal.
O caractere de Tao |
O símbolo de Yin-Yang |
Estes são os conceitos básicos do Taoísmo assim extremamente resumidos (aconselho vivamente a pesquisarem mais sobre o assunto) e os quais descobrimos neste volume - obviamente com uma certa liberdade criativa. Então, como são apresentados estes conceitos em Hell's Paradise?
Bem, para começar todos estes conceitos de índole espiritual passam a ser materializados. Por exemplo, o tao passa a ser utilizado como uma energia física que melhora as capacidades das personagens e lhes concede poderes. No mangá, para uma pessoa se iniciar no tao ela primeiro deve aceitar tanto as suas fraquezas quanto as suas forças, deve existir este equilíbrio constante entre o forte e o fraco - o qual é denominado como o Caminho do Meio. O tao é igualmente influenciado pelas emoções. Existem vários caminhos para se cultivar o tao, sendo esses do'in (que envolve exercício físico), taisoku (que se remete a exercícios de respiração, tipo Demon Slayer), shu'itsu (meditação), shuten (que envolve o corpo) e, por último, bochu jutsu. Pessoalmente, bochu justu é o mais interessante, uma vez que este se prende com o sexo numa perspectiva tantrista onde o sexo é usado como um meio para se chegar à iluminação e ao divino (mais uma vez recomendo que pesquisem mais sobre o assunto, pois o meu conhecimento sobre este assunto é limitado). É nessa senda que o bochu jutsu é apresentado. A cada volume que passa, estas filosofias vão tendo um papel mais relevante na história, influenciando e conversando com as personagens.
E falando em personagens, parece-me um bom ponto para analisarmos como tudo isto afeta Gabimaru e os restantes. Começando por Gabimaru, o nosso ninja está a dar cada vez mais espaço para as suas emoções, contrariando a sua alcunha. É interessante porque ele ainda está num processo de aprendizagem, ainda está num processo de aceitação dessa "humanidade". No fim, é essa "humanidade", que o chefe da vila tentou apagar, que lhe permite desbloquear o tao. Ele ainda precisa de aprender como usá-lo de uma forma efetiva, mas pelo menos é capaz de compreender o conceito básico, compreensão essa que se deve não só à esposa dele, como também à própria Sagiri. Achei isso ainda mais espantoso, pois mostra que estas duas personagens se respeitam e, perante todas as adversidades da ilha, meio que constroem uma espécie de companheirismo.
Uma coisa que achei muito engraçada foi a sua interação com Tamiya Gantetsusai. A primeira vez que estes dois se encontram ficam simplesmente a inventar cenários na sua cabeça sobre o rumo de uma luta imaginada entre os dois. Nos primeiros painéis, eu não tinha percebido que aquilo tudo era imaginado e fiquei um pouco chocada por Gabimaru ter morrido tão rápido. Mas, deppois quando percebi que afinal são só eles os dois a discutir quem teria vantagem sobre quem, não pude de deixar rir. Também achei muita graça ao facto do gigante o tratar como o seu irmão mais novo, ao que Gabimaru responde ligeiramente irritado que ele não é o seu irmão. É uma cena um tanto cliché? É, mas retira um pouco da tensão que foram os capítulos anteriores.
Outra personagem que se destacou neste volume foi Choubei Aza. No último volume, os irmãos Aza, derrotados por um Tensen, tinham sido atirados para um poço, a fim de se transformarem em matéria para o Elixir da Vida. No entanto, os irmãos contrariaram esse destino, especialmente Choubei que estava extremamente ferido. À semelhança de Gabimaru e Gantetsusai, também os irmãos são visitados por um Doshi, que os tenta eliminar. No meio da luta, também Choubei começa a compreender o que é o tao, todavia o seu processo é diferente. Pelos vistos, dentro do poço ele tinha absorvido um pouco do poder das flores, o que lhe deu a capacidade de se regenerar. Enquanto Gabimaru aceita a sua humanidade, Choubei parece renegá-la, usando o poder numa vertente de força bruta. Choubei é uma personagem que me intriga muito e quero muito ver como será a sua interação com Gabimaru.
Nota: 4.5/5
Em suma, Hell's Paradise continua com uma narrativa forte, uma arte incrível e perturbadora e personagens extremamente interessantes. Até à próxima e boas leituras!
Ellis
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